A Noite
Mas a noite ventosa, a noite límpida
que a lembrança
somente aflorava, está longe,
é uma lembrança.
Perdura uma calma de espanto,
feita também ela de
folhas e de nada. Desse tempo
mais distante que as
recordações apenas resta
um vago recordar
As vezes volta à luz do dia,
na imóvel luz dos
dias de Verão,
aquele espanto
remoto.
Pela janela
vazia
o menino olhava a
noite nas colinas
frescas e negras, e
espantava-se de as ver assim tão juntas:
vaga e límpida
imobilidade. Entre a folhagem
que sussurrava na
escuridão, apareciam as colinas
onde todas as coisas
do dia, as ladeiras
e as árvores e os
vinhedos, eram nítidas e mortas
e a vida era outra,
de vento, de céu,
e de folhas e de
coisa nenhuma.
Às
vezes regressa
na imóvel calma do
dia a recordação
daquele viver
absorto, na luz assombrada.
Cesare Pavese, in 'Trabalhar Cansa'
Tradução de Carlos
Leite
(texto tomado del sitio "citador.pt)
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