martes, 4 de junio de 2013

Cesare Pavese (1908/1950 )


A Noite

Mas a noite ventosa, a noite límpida

 que a lembrança somente aflorava, está longe,

 é uma lembrança. Perdura uma calma de espanto,

 feita também ela de folhas e de nada. Desse tempo

 mais distante que as recordações apenas resta

 um vago recordar

 

                        As vezes volta à luz do dia,

 na imóvel luz dos dias de Verão,

 aquele espanto remoto.

 

                                Pela janela vazia

 o menino olhava a noite nas colinas

 frescas e negras, e espantava-se de as ver assim tão juntas:

 vaga e límpida imobilidade. Entre a folhagem

 que sussurrava na escuridão, apareciam as colinas

 onde todas as coisas do dia, as ladeiras

 e as árvores e os vinhedos, eram nítidas e mortas

 e a vida era outra, de vento, de céu,

 e de folhas e de coisa nenhuma.

 

                                         Às vezes regressa

 na imóvel calma do dia a recordação

 daquele viver absorto, na luz assombrada.
 
 

 
Cesare Pavese, in 'Trabalhar Cansa'
 Tradução de Carlos Leite

(texto tomado del sitio "citador.pt)
 

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